PREVENÇÃO É O CAMINHO
O tema drogas tem sido amplamente discutido na atualidade, não apenas
por causa da onda de criminalidade promovida pelo tráfico em muitos
lugares do mundo, mas pelo efeito mais devastador dela: a interferência
na vida de famílias inteiras, que se vêem, de repente, envolvidas com a
questão da dependência química. Qual é a melhor maneira de lidar com
esse problema? Essa é uma pergunta ainda não respondida, apesar dos
inúmeros tratamentos disponíveis e das tentativas de muitos estudiosos
para descobrir remédios e técnicas capazes de ajudar as pessoas a se
livrarem do vício.
O que leva uma criança ou um adolescente a experimentar drogas e, eventualmente, a se tornar um dependente químico?
É claro que essa é uma pergunta tão difícil quanto saber qual é a
melhor forma de lidar com esse problema, mas há alguns mitos sobre essa
questão que podem ser discutidos.
O primeiro deles é o de que os jovens que usam drogas pertencem a
famílias “desestruturadas”. Durante muito tempo, a maioria das pessoas
achou (e muitas ainda acreditam) que o problema das drogas estava
restrito a crianças e adolescentes filhos de pais separados. O que se
dizia é que esses filhos, desestabilizados pela separação, recorriam às
drogas para esquecer os problemas e fugir do desconforto causado pelo
fim do casamento dos pais. Hoje, sabe-se que o uso de drogas (incluindo o
cigarro e o álcool, que são as chamadas drogas legais) ocorre tanto em
famílias em que os pais estão separados quanto naquelas em que eles
estão juntos. Portanto, o divórcio não serve mais como vilão para
explicar o uso de drogas entre adolescentes, e outras causas, mais
próximas da realidade, devem ser pesquisadas.
Inúmeras pesquisas têm mostrado, por exemplo, que um dos principais
motivos que levam os adolescentes a experimentar as chamadas drogas
ilícitas (como a maconha e a cocaína, por exemplo) é a curiosidade pelas
sensações que os amigos relatam sentir ou porque querem saber a razão
de a droga ser tão consumida, apesar de todo mundo dizer que ela é ruim.
Uma segunda causa, muito citada pelos adolescentes usuários de drogas, é
a necessidade de aceitação pelo grupo de amigos. Muitas vezes, o jovem
está em uma festa com os amigos ou vai a algum lugar à noite onde todos
estão consumindo alguma droga. Nesse momento, ele se sente constrangido
em dizer que
não quer provar ou tem medo de ser rejeitado pelo grupo se não aceitar.
Esses dados nos dizem, em primeiro lugar, que um adolescente não sai
pelas ruas disposto a experimentar drogas pela primeira vez porque
brigou em casa e acha que essa é uma ótima maneira de fugir dos
problemas. Ele não conhece os efeitos da droga e as conseqüências que o
uso pode trazer e, por isso, ela ainda não é um veículo de fuga. O
primeiro contato do adolescente com as drogas costuma ser casual,
motivado principalmente pela curiosidade, pelo desejo de experimentar
novas sensações e pela pressão do grupo de amigos do qual faz parte. Já o
contato com drogas como o cigarro e o álcool costuma ser mais precoce e
ocorre, na maioria das vezes, em casa. O fato de os pais beberem ou
fumarem torna esses produtos acessíveis à criança, que, também por
curiosidade, acaba experimentando-os.
No entanto, é preciso considerar que, ainda que o primeiro contato com
as drogas seja casual, o que faz com que uma criança ou adolescente se
torne ou não um dependente químico não é mero acaso. Uma dica importante
para isso foi dada em um estudo publicado no Journal of American Medical Association.
Nesse estudo norte-americano, os cientistas concluíram que adolescentes
que têm ligações emocionais fortes com seus pais ou com professores
apresentam uma probabilidade menor de utilizar drogas com freqüência.
Isso quer dizer que, quando o indivíduo percebe que é compreendido pela
família em casa e sente que tem um canal aberto para dialogar e discutir
seus problemas com adultos de confiança, ele tem mais condições de
lidar com suas dificuldades sem precisar recorrer às drogas e de se
recusar a continuar consumindo-as, ainda que sofra pressão dos amigos.
Lidar com o conflito entre se entregar às sensações de prazer imediato
que a droga proporciona ou recusar-se em favor da manutenção da saúde é
algo realmente difícil. Isso exige do adolescente força de vontade,
informação e um local de apoio onde ele possa se sentir seguro para
falar sobre essa dificuldade.
Outro mito da atualidade é o de que os adolescentes têm muitas
informações sobre os efeitos das drogas, já que o acesso à TV e a outros
meios de comunicação de massa é generalizado e, portanto, todos “sabem
bem o que fazem” quando utilizam qualquer substância química. Uma
pesquisa realizada pela Universidade Federal da Bahia com adolescentes
mostrou um dado interessante: a maioria deles não associa a cerveja ao
álcool. Isso significa que, quando eles estão bebendo cerveja, acham que
ela é muito diferente das demais bebidas alcoólicas, que é “fraca”, que
não é uma droga e que, portanto, pode ser consumida sem qualquer
problema. Concepções parecidas são encontradas entre consumidores de
ecstasy, uma substância muito utilizada pelos jovens em festas. Para
eles, essa droga não vicia e não traz dano algum à saúde, o que é um
erro grave. Tudo isso mostra que as informações que os adolescentes têm
sobre drogas restringem-se a “drogas fazem mal à saúde”, mas a maioria
não sabe dimensionar com clareza que tipo de dano a droga causa ao
organismo. Isso indica que crianças e adolescentes precisam receber
informações corretas sobre os efeitos das drogas que os ajudem a
entendê-los e que os auxilie a decidir por seu uso ou não.
O nosso grande desafio é desmistificar o usuário de drogas. Ele não é
um criminoso, uma pessoa fraca e sem vontade ou alguém perverso. Quando
se passa a encarar o uso de drogas como algo que pode acontecer com
qualquer um, a necessidade de investimento em prevenção se torna ainda
mais importante e passa a ser vista como algo fundamental na família e
na escola.
Fonte:www.educacional.com.br/falecom/psicologa